quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Doze anos após retirar testículos com estilete, transexual faz terapia no SUS



By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: Raquel Morais (G1) Imagem: Simone Rodrigues

Doze anos depois de retirar os testículos em casa com um estilete escolar, a transexual Simone Rodrigues, de 36 anos, conseguiu nesta semana o que julga ser o grande passo para realizar seu maior sonho: a cirurgia de mudança de sexo. Ela deu início ao acompanhamento com psicólogos da rede pública de saúde e vai se preparar emocionalmente para a operação pelos próximos dois anos.
Cuidadora de animais de uma casa em uma área nobre de Brasília, Simone conta que desde criança demonstrava interesse pelo que considera ser o universo feminino. As brincadeiras preferidas eram com bonecas, e ela odiava ter de usar calças e camisas masculinas. Aos 12 anos, no entanto, ela percebeu que havia algo "diferente".
"Entrei em desespero. Minha cabeça ficou meio confusa sobre o que eu gostava, sobre o que deveria fazer. Nasci homem, então eu precisava gostar de mulher. Só que não era isso o que acontecia comigo", diz.
Na época, ela decidiu se mudar de Monte Alegre, no interior do Piauí, para Brasília e passar a viver com a mãe e os quatro irmãos. Foi então que Simone abandonou os cortes que a deixavam com o cabelo curto e as "roupas de menino".
Aos 16 anos, conseguiu emprego como empregada doméstica no Lago Sul, interrompeu os estudos e passou a morar sozinha. A transexual afirma que sempre teve o apoio da família para a qual trabalhava e que, ao longo dos sete anos em que prestou serviço no local, nunca foi desrespeitada.
"Eu sempre gostei de ler, de ver jornal. Aí, a mulher que era minha patroa me mostrou uma notícia sobre transexualidade e sobre a cirurgia. Comecei a ler tudo a respeito, a entender como funcionava. Ouvi falar na Roberta Close e pensei: 'tem solução'. Criei esperança", declarou. "Vi que os testículos eram a única parte não aproveitada na mudança de sexo e decidi que pelo menos disso eu ia me livrar. Ter o órgão masculino sempre me incomodou muito."
A cuidadora de animais conta que já havia procurado hospitais públicos do DF para se informar sobre o procedimento e não conseguiu ajuda e, então, meses depois de deixar o emprego, resolveu tentar o procedimento em casa. Ela pediu a uma amiga dentista ajuda para conseguir a anestesia, esterilizou uma agulha, separou linha de costura e paninhos para estancar o sangramento e pegou um estilete.
"Eu falei para a minha amiga que queria tirar bicho de pé de cachorro, então ela me deu [a anestesia] de graça. Foi no meio da semana, mas não me lembro bem o dia. Fiz o corte, costurei tudo direitinho. Eu nunca tinha visto isso antes, mas eu queria, eu precisava daquilo, então acho que também me ajudou. Fiz o curativo e fiquei tomando água de caju, estava no filtro da minha casa com uma semana de antecedência. Em 15 dias, eu já não sentia mais dor nem nada", lembra.
Simone afirma que não se arrepende da intervenção feita em casa. Desde então, usa calcinha e calças femininas, além de manter o cabelo preto na cintura. Ela também passou a ter alguns namorados e teve relações sexuais.
Acompanhamento e cirurgia
O Ministério da Saúde passou a oferecer as cirurgias de mudança de sexo em 2008. Atualmente, o atendimento é feito em quatro unidades de saúde: Hospital das Clínicas de Porto Alegre (RS), Hospital Universitário Pedro Ernesto (RJ), Fundação Faculdade de Medicina (SP) e Hospital das Clínicas de Goiânia (GO). De acordo com a pasta, os pacientes passam por acompanhamento psicológico por no mínimo dois anos antes da cirurgia.
A entidade afirma que a norma atende a uma resolução do Conselho Federal de Medicina, que estabelece o prazo para que os interessados tenham tempo suficiente para refletir e ter certeza da decisão. No caso de moradores do DF, o acompanhamento é feito nos centros de saúde. Depois do período, os pacientes são incluídos na lista de um dos quatro hospitais. Mais detalhes.

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